Em tempos de escola sem partido e reforma do ensino médio, torna-se imprescindível discutir o sentido da educação. Propostas como essas entram em pauta na Câmara e no Senado, sem o menor diálogo com a sociedade, com intelectuais da educação, estudantes e docentes. Somam-se a isso, muitas outras violências que, sobretudo a população mais pobre, sofre diariamente. Direitos como o lazer, a saúde, a educação e a segurança, vêm sendo cerceados cada vez mais.
Diante disso, é necessário que se reforce o debate acerca do sentido da educação e, em nosso contexto, qual o sentido de se ensinar geografia. Por essa razão, na XVI Semana de Geografia, optamos por estudar o livro “Pedagogia do Oprimido”, de Paulo Freire, pois entendemos que é primordial nesse debate.
O direcionamento aplicado pelo clássico de Freire deve tocar questões relativas aos processos que constroem o aluno como cidadão. O tema norteador escolhido para o ano de 2019 é “Espaço, presente! Memória, presente! Liberdade presente!”. Entendemos que o atual momento político do país exige que recoloquemos em pauta a importância dos direitos já adquiridos. Logo, os quatro elementos presentes no tema resgatam princípios que vinham sendo invisibilizados.
O primeiro elemento do tema trata do espaço. Esse não apenas no sentido geográfico da palavra, mas também buscando abrir possibilidades de discussão para além da disciplina. Espaço, nesse contexto, ganha um escopo mais sentimental, em que o lugar onde se vive também é de extrema relevância para a formação do sujeito.
Nesse aspecto, a ideia de Freire se aproxima com o tema, uma vez que acreditamos que o espaço também contribui para a formação de um cidadão crítico e autônomo. O espaço, seguido pela palavra “presente”, não se refere apenas ao intervalo de tempo atual, mas ele também é conteúdo e continente de memórias das pessoas que construíram esse espaço e do mesmo modo que contém as esperanças dos sujeitos que o estão construindo e o ressignificando.
Sendo assim, é fundamental que pensemos no segundo elemento do tema: a memória, e na sua importância para o ensino de geografia, uma vez que ela tem em si diversas temporalidades, que revelam nuances da formação socioespacial.
Entretanto, muitas das memórias foram e estão sendo substituídas por uma história oficial, uma versão tendenciosa da história, que oculta as outras perspectivas. Com isso, a discussão que propomos não é a da importância da memória em si, mas a de resgatar memórias espaciais não-oficiais, ou seja, colocar em evidência o que tenta-se ocultar e apagar da mente coletiva.
O resgate dessa memória ocultada remete à vida vivida pelos sujeitos em seus cotidianos, aos costumes que não se perderam, entre outros. Manter e relembrar essa memória não contada, reafirma uma noção espacial e um sentimento de pertencimento necessário para que os cidadãos possam se reconhecer como tal.
Chegamos assim no terceiro elemento: a liberdade. Tendo em vista que busca-se que o aluno se construa como um ser humano autônomo, que se reconhece no espaço e nas memórias que nele estão contidas, o que resta agora é questionar que espaço se quer construir.
O indivíduo consciente do seu papel como agente transformador em sua realidade é fundamental para que se possam construir e estabelecer processos novos, rompendo com as relações anteriores.
Não nos esqueçamos, porém, do quarto elemento: “presente!”. A palavra se repete nas três orações, remetendo a uma chamada escolar. Porém, nesse caso, quem se colocam como presentes são justamente os conceitos que estamos tentando colocar em evidência. A palavra “presente” vem com a carga simbólica, que é função da escola e da universidade pública não permitir que a memória seja apagada, que o espaço deixe de ter essa conotação coletiva e que a liberdade deixe de ser almejada. Ao colocarmos presente, sugerimos que as escolas e a universidade repensem suas próprias formas e estejam mutuamente presentes.
Cada escola poderá apresentar até 02 projetos, feitos por professores e estudantes de várias séries, em conjunto ou separadamente, sendo que cada projeto deve ser encaminhado por um único professor. O projeto deve ser enviado para o e-mail semangeo@usp.br, no período de 01/04/19 à 30/04/19; o resultado da seleção será divulgado no site da Semana de Geografia http://bit.ly/escoladeprojetos
Os projetos selecionados contarão com o apoio de um monitor para sua realização. Os resultados do projeto deverão ser apresentados pelos estudantes durante a realização da XV Semana de Geografia, 22 a 26 de outubro de 2019, na Universidade de São Paulo.
Além da Apresentação dos Projetos das escolas, ocorrerá nesta XVI edição da Semana de Geografia a realização de minicursos (conferir programação no site: https://semangeousp.wordpress.com/minicursos-e-oficinas/).
Obs: Serão emitidos certificados para todas as atividades.
Bibliografia Sugerida:
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. 17a. ed.
Realização:
Departamento de Geografia - Universidade de São Paulo - USP
Av. Prof. Lineu Prestes, 338 – CEP 05508-900
Cidade Universitária – São Paulo
Laboratório de Geografia Urbana – LABUR, fone: (11) 3091-3714